No Brasil, persiste a
tradição que o Estado deve imperar nos ditames econômicos do meio social, cujas
raízes remontam à implantação do Governo-Geral em 1549 pelos portugueses no
período colonial. O governador-geral era um típico vice-rei, simplesmente, tudo
passava pelo seu crivo: distribuição de sesmarias, administração das
capitanias, indicação para os cargos de capitão-mor, ouvidor-mor e
provedor-mor, comércio de pau-brasil, etc. No Primeiro Reinado, a centralização
governamental foi guarnecida com a criação do Poder Moderador. Na Regência,
houvera a divisão de poder entre três regentes, voltando ao status anterior com
a regência una. O Conselho de Ministros e o “parlamentarismo às avessas” no
Segundo Reinado sinalizaram uma mudança na perspectiva governamental, mas o
golpe militar que proclamou a República interrompeu o processo de mudança
supracitado.
No plano das
mentalidades, de forma quase natural, as pessoas encaram o Estado como provedor
primordial de riqueza, ademais, visto como único órgão capaz de promover a
justiça social e a equidade econômica. Os tentáculos estatais atingem a
educação, saúde, infraestrutura e, sobretudo, o itinerário da economia. No
Brasil, aparentemente, não há vida sem o Estado, logo, é um sacrilégio propor a
alternativa neoliberal para nossa economia. Percebe-se também, uma confusão
conceitual, quiçá um desconhecimento do termo em questão; é oportuno realizar
abaixo um adendo sobre liberalismo e neoliberalismo.
A Inglaterra, berço da
Revolução Industrial, é a mãe do liberalismo. No âmbito da filosofia política,
o liberalismo foi pontuado por John Locke ainda no século XVII, porém o
aprimoramento conceitual veio em 1776 com a publicação da obra-prima A Riqueza das Nações de Adam Smith, que
ganhara a alcunha de “pai do liberalismo clássico”. As esteiras das fábricas
foram os bastidores de maturação do liberalismo: ênfase na lei da oferta e da
procura, defesa da propriedade privada e liberdade comercial. Em seguida, o
século XIX trouxe a consolidação do sistema capitalista, a afirmação da ciência
e a Belle Époque. No início do século
XX, a Primeira Guerra frustrou essa euforia desenvolvimentista do capitalismo e
contestações mais rijas ao liberalismo angariaram certa pujança.
O “sonho” liberal
declinou na Crise de 1929, abrindo
espaço para outra escola econômica, o keynesianismo, cujo Estado teria um papel
interventor na economia. O keynesianismo teve um fôlego expressivo até a década
de 1970, período que abrigou o ensaio de um novo paradigma econômico, o
neoliberalismo, o qual, teve Margaret Thatcher e Ronald Reagan como principais
entusiastas. Na ótica neoliberal, o Estado não intervém na economia e as
privatizações são incentivadas; essas medidas objetivam a construção do “Estado
Mínimo”. Apesar da distância temporal, o liberalismo e o neoliberalismo têm a
mesma essência e algumas diferenças tênues, todavia, em ambos, a iniciativa
privada é a mola propulsora da economia.
O neoliberalismo no
Brasil é a personificação do oitavo pecado capital; ser neoliberal é sinônimo
de burguês, capitalista cruel, inimigo das classes trabalhadoras, elitista
opressor... Além das causas históricas, essa mentalidade antineoliberal foi
gestada e parida nos ventres acadêmicos. Nas universidades brasileiras, existe
o pensamento hegemônico dito de esquerda, um tipo de simulacro de
interpretações pouco abissais do marxismo. O aluno é doutrinado a seguir o
ideário (paradigma) de “esquerda”, enveredado às leituras de bibliografia marxista,
vislumbrando-se a ausência do estudo de autores liberais e conservadores. John
Locke, Adam Smith, Edmund Burke e Alexis de Tocqueville foram satanizados e
esquecidos nas prateleiras das bibliotecas. Neste âmbito unitário de ideologia
“marxista”, o debate de reverberações antagônicas não é incentivado. Obviamente,
a contraposição de bibliografias paradoxais é uma tarefa mui positiva no
exercício do livre-pensamento. Contudo, a universidade brasileira ainda está
presa aos grilhões do totalitarismo ideológico.
No desenrolar da
história contemporânea do Brasil, o keynesianismo
tupiniquim foi a tônica da economia. Sabe-se que qualquer país não pode ter
apenas um único paradigma econômico. Com a quebra da Bolsa de Nova York, o
keynesianismo foi importante na recuperação econômica dos Estados Unidos,
subsequente, o liberalismo e o neoliberalismo teceram suas contribuições. Em
épocas sombrias de recessão econômica, déficit estratosférico das contas
públicas e taxa de desemprego de 12%, é mister não insistir cegamente no keynesianismo tupiniquim. Deve-se buscar
uma série de alternativas, como a diminuição do tamanho da máquina estatal e
facilitar a geração de riqueza pela iniciativa privada. Por conseguinte, na
lógica dos corruptos é muito mais cômodo e confortável “roubar o governo” do
que o indivíduo; há aquela visão que a coisa pública não tem dono, logo, o
roubo é justificável, o que explica o desinteresse da classe política no
tocante à constituição de um Estado menor e transparente. Indubitavelmente, o Brasil necessita ampliar
os paradigmas econômicos, porém os “donos do poder” preferirão ad eternum o keynesianismo tupiniquim, status
quo histórico que permitirá a
continuação do assalto bilionário ao Leviatã
Estatal.
Tosta Neto, 29/12/2016
Observações lúcidas, didáticas, pertinentes. Parabéns!!!
ResponderExcluirPrezado Ricardo, grato pelas palavras! Abraços.
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