A
República está podre. Deu o que tinha de dar. É o momento final de uma
estrutura de poder que não mais responde às necessidades nacionais. Ao longo da
história republicana tivemos momentos de ruptura, como em 1930, 1964 ou, em
menor escala, em 1985. Agora a crise adquire outro perfil. Pela primeira vez
vivemos sob a égide de uma Constituição plenamente democrática. E que enfrentou
dois processos de impeachment em apenas um quartel de século. Mas nunca, por
paradoxal que pareça, a corrupção esteve tão presente nas entranhas do poder,
como agora.
O
Estado democrático de Direito, ao invés de garantir o exercício pleno da
cidadania, acabou se transformando em apanágio para os corruptos. A estrutura
legal foi instrumentalizada em favor daqueles que transformaram a coisa pública
em coisa privada. E contou com uma ampla base de apoio na praça dos Três
Poderes, símbolo maior da ineficácia das instituições republicanas.
Os
acontecimentos que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff abriram um leque de
possibilidades. A tradição nacional, infelizmente, é de encontrar soluções
superficiais, sem ir ao âmago dos problemas, evitando uma cesura institucional
mais profunda. Em outras palavras, é a velha conciliação, que impede a
constituição plena do novo e preserva, na ordem recém-nascida, a maior parte
das antigas mazelas, agora sob nova roupagem. Dessa vez, devido ao esgarçamento
das instituições e da participação inédita da sociedade civil na esfera
política, abriu-se a possibilidade de – finalmente! – caminharmos rumo a uma
sociedade democrática, republicana e com sólidas instituições sob controle dos
cidadãos.
A
contradição principal é que a velha ordem ainda detém o controle da máquina
estatal. As concessões dos donos do poder chegaram ao limite, como no
julgamento de Dilma Rousseff. Esperar que avancem em direção aos reclamos
democráticos da sociedade civil é absoluta ingenuidade. Aí está o nó górdio.
Mas como desatá-lo?
Nada
indica que a crise institucional encontre solução à curto prazo. Haverá uma
recuperação econômica, ainda que tímida e muito aquém das potencialidades
nacionais. Alguns figurões da República irão para a cadeia. Em uma ou outra
fração do aparelho estatal poderá ocorrer reformas. Contudo, a essência do
problema vai permanecer.
(Por
Marco Antonio Villa / Artigo
publicado na ISTO É)
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