Nos
países que primam pela excelência, os anos finais do ciclo escolar consolidam o
conhecimento acumulado ao longo do trajeto e mais: preparam os estudantes para
se tornar gente pensante, produtiva, inovadora. Oferecer um bom ensino médio é,
portanto, crucial para pavimentar o caminho do jovem, seja para a vida
acadêmica ou qualquer ofício que lhe dê bom rumo na vida. Essa é a história
contada do ponto de vista do ideal. A realidade no Brasil é muito mais árida,
como mostra o novo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)
divulgado nesta semana.
Um
dado apenas já dá o tom da catástrofe: a matemática no ensino médio obteve o
pior resultado desde 2005. Não avançou um décimo. Ao contrário, retrocedeu. Na
última avaliação, referente a 2013, apenas 9% dos alunos apresentavam
aprendizado considerado adequado na disciplina, número que junta as escolas
públicas às privadas. Segundo os números de hoje, o porcentual é menor, entre
8% e 9%. Em 1999, eram mais: 12%.
Não
resta dúvida de que há algo de muito errado no ensino como um todo – afinal, o
adolescente que chega ao nível médio vem, em geral, com base fraca para
enfrentar os novos desafios intelectuais que se apresentam. Também não há
dúvida de que este modelo de ensino médio, uma “jabuticaba brasileira”, é um
grande equívoco. “O Brasil precisa fazer uma mudança radical aí, e já”, afirma
Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna. “O retrocesso em
matemática significa uma queda no preparo dos alunos para o século XXI, em que
as matérias de exatas são fundamentais para inserir o estudante no mundo”,
reforça Priscila Cruz, diretora da ONG Todos pela Educação.
O
ensino médio brasileiro é o menos flexível do mundo. Todos os alunos seguem o
mesmíssimo enfadonho roteiro, independentemente de suas aptidões e interesses.
O problema começa com a engessada e volumosa grade de matérias: são treze
disciplinas obrigatórias, espremidas em um turno de quatro horas de aula. Na
prática, já se mediu, contando-se toda a perda de tempo na escola, a jornada de
estudos não passa de duas horas e meia, em média, no Brasil. Em alguns países,
o aluno tem mais liberdade para escolher as matérias; noutros, pode optar entre
tipos de escola diferentes, das mais acadêmicas às mais técnicas.
Os
outros dois níveis testados pelo MEC foram o quinto e o nono ano do ensino
fundamental. Os mais novos tiveram avanço. Aumentaram 12 pontos a proficiência
em língua portuguesa e oito em matemática. Parte do progresso está ligado ao
programa Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, que ensina a criança
a ler e a escrever até os oito anos. Presidente do Instituto Alfa e Beto, o
especialista João Batista Oliveira faz uma ponderação: “Nas séries iniciais
fatores externos ao ensino, como melhoria de renda e de escolaridade dos pais,
pesam mais. Não é conclusivo, portanto, dizer que houve um avanço no ensino
propriamente.” E completa: “Se estivéssemos diante de uma melhora relevante na
sala de aula, isso se refletiria também nas outras séries.” De fato, o segundo
ciclo do ensino fundamental, antigo ginásio, segue avançando, mas em ritmo lento.
Quanto
ao ensino médio, já em 1950 o sistema daqui espantou o prêmio Nobel de Física
Richard Feynman (1918-1988), em viagem ao Brasil. Em nenhuma outra parte
Feynman vira tanta matéria e tão pouco aprendizado – “um paradoxo fadado ao
fracasso”, concluiu. Passou da hora de mudar. A boa notícia é que o atual
ministro, Mendonça Filho, trabalha por isso no Congresso, onde tramita um
projeto de lei flexibilizando o atual modelo. É preciso vencer a resistência de
corporações que preferem deixar tudo como está. Que não seja preciso esperar
mais décadas e mais resultados ruins para fazer o que parece óbvio.
(Fonte: MSN Notícias / Veja)
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