A
campanha eleitoral do município é a que mais contagia o eleitor, afinal, existe
uma relação próxima entre candidatos e eleitores; a temática em questão é
deveras recorrente nas rodas de conversa. Normalmente, as cidades, sobretudo do
interior, ficam divididas em duas cores. Nas redes sociais, presencia-se uma
série de postagens fervorosas e passionais sobre os candidatos, além da
exposição maciça de fotos dos eventos políticos. As emoções ficam à flor da
pele e velhas amizades, às vezes, são temporariamente rompidas.
No
pleito eleitoral, a “política” fica
em evidência, embora ocorra um equívoco no uso do termo. Se quisermos
compreender a definição de política, precisamos regressar à Grécia Antiga.
Consoante os gregos, política quer
dizer bem comum, logo, o político é
aquele que visa o bem comum e relega
os interesses individualistas. Política vem de pólis, instituição grega que representou a cidade-estado. O
verdadeiro político zela em prol da harmonia citadina. Portanto, há diferenças
exacerbadas entre política e “política”, contudo, estas palavras acabam confundindo-se
na mentalidade popular.
No
desenrolar da campanha, a política fica obnubilada pela animosidade dos grupos
partidários, assim, os temas de textura pública são esquecidos pelos atores
envolvidos. O pleito eleitoral se transmuta na Grande Gincana, desvelando-se
bordões clássicos: a carreata do 13 tinha carro de fora; a caminhada do 43 tinha
muita criança; tal rua tem mais bandeiras do 15; tal pesquisa aponta a
liderança do 55. Ademais, os candidatos são elevados à categoria de semideuses,
cujas “qualidades” são exaltadas em verso e prova. O candidato se torna um ser
divino, dotado de simpatia e infalibilidade, prometendo para o eleitorado o
paraíso terrestre.
A
Grande Gincana inunda as ruas: carros plotados, bandeiras, adesivos,
caminhadas, carreatas, festas da gasolina, etc. Eu não posso olvidar das
músicas que embalam as campanhas: paródias de qualidade duvidosa, letras
repetitivas, melodias paupérrimas, enfim, daqui até o final da campanha, nossos
ouvidos ficarão saturados e os números dos semideuses martelando o nosso mundo
consciente; sem querer, acabamos cantando essas musiquinhas. A Grande Gincana
desloca a pauta de propostas dos candidatos para um plano terciário. Talvez, o
eleitorado brasileiro tenha perdido a paciência de ouvir as propostas, pois as
mesmas desaparecem no vendaval de promessas que jamais serão cumpridas. É
inconteste que a classe política não detém a confiança do povo.
No
Brasil, o “político” virou símbolo de mentira e corrupção, aquele tipo que
fracassou na carreira profissional e só entrou no ramo para “levar vantagem”
(enriquecer). Desde a República Velha até a contemporaneidade, o pleito
eleitoral está imbuído de mazelas, haja vista o uso da estrutura pública em
benefício de determinado grupo político, como também a prática sórdida da
compra de votos, o famoso “toma lá dá cá”. As mazelas supracitadas corroboram
com a famosa frase atribuída ao pensador político de Florença Nicolau
Maquiavel, os fins justificam os meios,
isto é, o “político” deve fazer de tudo para conquistar o poder.
Irrefutavelmente,
a essência da política está mui corrompida. Ademais, os anseios espúrios do
partidarismo contribuíram com tal corrupção. O político e o partidário estão em
polos antípodas. A política está coadunada ao bem comum. O partidarismo coloca a causa do partido acima do bem comum. O genuíno político não tem
partido, por conseguinte, defende diuturnamente a égide sacra do bem comum. O partido denota algo que
está partido (dividido, separado), status
quo que desguarnece a defesa do afã público. O político de fato não se
preocupa com 13 ou 43, 15 ou 55, PT ou PSDB, PC do B ou DEM, outrossim,
inspirado no essencial primevo da política, busca a construção duma polís (sociedade) mais justa,
democrática e humana.
Tosta
Neto, 17/09/2016
Crônica extremante lúcida sobre o tipo de "política" que se pratica no nosso país, em especial em nossa cidade. Essa característica de "gincana" mencionada no texto reflete bem tudo isso. Outro tópico bem relevante levantado pelo cronista é no que tange à diferença entre político e partidário, pois essa é uma diferença essencial para se conhecer um grande homem público e um péssimo político. Percebemos a prática constante do "partidarismo" como modus operandi de se fazer "política" que se reflete na incessante tentativa de um determinado grupo partidário, eventualmente na oposição, em tentar boicotar os que estão na situação. O verdadeiro político, aquele fundamentado nos valores gregos, deveria realizar sempre uma oposição responsável, ou seja, apontar o que consideram erros da gestão do momento, fiscalizar, propor alternativas, lançar projetos nas câmaras municipais, entre outras práticas salutares para o bom exercício da verdadeira política. Contudo, não é o que acontece atualmente, pois o que as oposições políticas realizam país afora é essa tentativa constante de boicotar, segurar, engessar, amarrar, minar, mentir, caluniar, barrar projetos, propostas, benefícios, mesmo que favoreçam a população porque temem que o grupo político que administra atualmente a cidade, estado ou país "leve a fama" pelo bom serviço prestado ao povo. Os "políticos" precisam aprender a serem POLÍTICOS e não partidaristas, pois só assim, teremos a oportunidade de superar a atual crise que a nossa nação enfrenta, melhorar a imagem dos mesmos perante a população e opinião pública e superar as correntes do atraso e da mediocridade nacionais. A minha esperança é pouca, mas como disse certa vez o grande filósofo grego Aristóteles: "a esperança é o sonho do homem acordado".
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