O
marqueteiro João Santana guardava segredos tão sulfurosos sobre as campanhas do
PT que, por meses a fio, anos a fio, se recusou a revelá-los. Preso em Curitiba
e questionado pelo juiz Sergio Moro sobre seu mutismo implacável a respeito das
duas campanhas de Dilma Rousseff, Santana desmontou e confessou: “Eu, que
ajudei a eleição dela, não seria a pessoa que iria destruir a presidente”. Na
semana passada, VEJA levantou o véu sobre o cardápio de revelações que o
marqueteiro entregou ao Ministério Público na negociação de sua delação
premiada — e, considerando-se o que promete dizer, pode-se finalmente entender
por que ele usou a expressão “destruir a presidente”.
A
principal revelação que Santana e a sua mulher, Mônica Moura, se dispuseram a
comprovar é que a presidente afastada autorizou ela mesma as operações de caixa
dois de sua campanha. Ou seja: não se trata de dizer que Dilma sabia do que
acontecia nos bastidores clandestinos de suas finanças eleitorais, mas sim que
ela própria comandava o jogo. Faz sentido diante da personalidade meticulosa de
Dilma, tão dada aos detalhes. Segundo Santana, em 2014, quando Dilma o convidou
para tocar sua campanha à reeleição, ele relutou em aceitar a proposta.
Argumentou que, nas eleições anteriores, de 2010, havia tido problemas para
receber os pagamentos pelos serviços prestados e não queria voltar a enfrentar
as mesmas complicações. Para piorar, em 2014, com um cenário político mais
competitivo, achava que precisaria de mais recursos do que na campanha
anterior. Para convencê-lo a topar a empreitada, Dilma garantiu que dinheiro
não seria problema. Santana dirá que ouviu dela que não haveria atraso no
pagamento e que o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, se encarregaria de
negociar o caixa paralelo com os doadores.
Mantega,
o ministro mais longevo da era petista, não era o único operador do caixa dois
nas campanhas do PT, segundo Santana. O ex-ministro Antonio Palocci exerceu o
mesmo papel até 2011, quando tropeçou nas explicações sobre a multiplicação do
próprio patrimônio. Ex-todo-poderoso chefe da Casa Civil e da Fazenda, Palocci
ganhou um capítulo exclusivo na proposta de delação do marqueteiro. Ele é
apontado como o responsável por esquematizar o fluxo de pagamentos clandestinos
que viabilizaram vários serviços nas eleições de 2006 e 2010, incluindo o do
próprio Santana. Palocci tinha uma conta junto às empresas envolvidas no
petrolão. Também tinha um braço-direito, Juscelino Dourado, que distribuía uma
parte do dinheiro.
Os
segredos do marqueteiro atingirão outras campanhas. Santana relatou aos
procuradores que a reeleição de Lula, em 2006, também recebeu dinheiro sujo. O
sistema era semelhante ao utilizado na campanha de Dilma em 2010: Palocci era o
principal responsável por articular com os empresários a liberação de recursos
para pagar determinados serviços.
(Fonte: MSN Notícias / Veja)
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