sábado, 13 de agosto de 2016

"O esporte venceu o racismo: Rafaela Silva, Campeã Olímpica" por Tosta Neto

Os Jogos Olímpicos, depois de 120 anos de existência, pousam com Vossa Nobreza em solo sul-americano. O Brasil vive um momento histórico, tendo a honra de sediar a Olimpíada. A “Cidade Maravilhosa” se transformou na capital mundial do esporte. Após várias críticas sobre os problemas de infraestrutura, a imprensa internacional reverenciou a singela e surpreendente cerimônia de abertura da 31ª edição dos Jogos Olímpicos; foi emocionante assistir o público do Maracanã entoando efusivamente a capela o clássico País Tropical de Jorge Ben Jor. A Olimpíada do Rio, na esfera esportiva, caminha de forma positiva, e já proporcionou grandes histórias de redenção, como a conquista do ouro pela judoca brasileira Rafaela Silva.
Antes de narrar a apoteose de Rafaela, preciso regressar aos Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles, quando Joaquim Cruz ganhou a prova dos 800 metros no atletismo. O atleta brasileiro obteve também a medalha de prata na mesma prova em Seul (1988). O triunfo de Cruz inspirou Flávio Canto à prática esportiva, que se tornou judoca e ganhou a medalha de bronze em Atenas (2004). Flávio Canto criou o Instituto Reação, projeto social enveredado para crianças carentes. Entre essas crianças, uma menina negra de 7 anos, oriunda da Cidade de Deus, matriculou-se nas aulas de judô. A menina da Cidade de Deus seria agraciada com o ouro olímpico na sua cidade natal.
Em 2012, nas Olimpíadas de Londres, Rafaela Silva foi eliminada por causa de um golpe considerado irregular pela arbitragem. Posteriormente, ela foi humilhada nas redes sociais por internautas racistas com comentários repugnantes, fato que levou a futura campeã olímpica cogitar a hipótese de aposentadoria. Os malditos insultos de “macaca” foram finalizados por Rafaela Silva, a carreira foi retomada e a perseverante judoca angariou o título de campeã mundial, competição realizada no Rio de Janeiro em agosto de 2013. Sem dúvida, a nossa campeã olímpica se sente bem à vontade nos tatames cariocas.
O ápice emergiu na primeira olimpíada realizada na América do Sul, no indelével 08 de agosto de 2016: Rafaela Silva venceu com um wazari a judoca da Mongólia, Dorjsürengiin Sumiyaa, líder do ranking mundial. Rafaela Silva é a primeira judoca, entre homens e mulheres, a conquistar o Mundial e o Ouro Olímpico. A menina da Cidade de Deus aplicou um ippon no racismo e foi premiada pela Deusa da Vitória, Nice.
O asqueroso racismo sempre perde para o esporte. Nos Jogos Olímpicos de Berlim (1936), a Alemanha vivia sob a égide de nazismo. Adolf Hitler desejava provar para o mundo a supremacia da raça ariana, cuja vitória no esporte reafirmaria a suposta supremacia, todavia, o Führer se esqueceu de combinar com Jesse Owens. No esporte mais nobre e tradicional da olimpíada, o atletismo, o atleta negro dos Estados Unidos ganhou o ouro nos 100 metros, 200 metros, revezamento 4 x 100 e salto em distância. Este episódio talvez seja o mais emblemático da história olímpica. Mais uma vez, o racismo caiu de joelhos para o esporte. Infelizmente, em pleno século XXI, o racismo ainda está entranhado na alma da humanidade.  Em contrapartida, o esporte vem se mostrando como uma arma poderosa de combate ao racismo, além de ser um meio de ascensão social. Histórias de vida como a de Rafaela Silva e Jesse Owens, refletem as sucessivas e maiúsculas vitórias do esporte na luta contra o racismo. Portanto, é imprescindível para qualquer nação, a ênfase na prática esportiva, pois o esporte trabalha valores primordiais na formação ética e humana de um povo.


                                      Tosta Neto, 13/08/2016

Um comentário:

  1. Excelente texto! Também considero o esporte como uma grande ferramenta para a construção de cidadania, o fomento de valores e ética, além de ascensão social. Pelas características geográficas, culturais e sociais do nosso país, temos um grande potencial para nos tornarmos uma potência olímpica. Quando o esporte se tornar prioridade na política social do nosso país, salvaremos várias vidas da marginalidade e formaremos grandes campeões do esporte e da vida. Países como Estados Unidos e China são bons exemplos disso.

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