Os
Jogos Olímpicos, depois de 120 anos de existência, pousam com Vossa Nobreza em solo sul-americano. O
Brasil vive um momento histórico, tendo a honra de sediar a Olimpíada. A
“Cidade Maravilhosa” se transformou na capital mundial do esporte. Após várias
críticas sobre os problemas de infraestrutura, a imprensa internacional reverenciou
a singela e surpreendente cerimônia de abertura da 31ª edição dos Jogos
Olímpicos; foi emocionante assistir o público do Maracanã entoando efusivamente
a capela o clássico País Tropical de Jorge Ben Jor. A
Olimpíada do Rio, na esfera esportiva, caminha de forma positiva, e já
proporcionou grandes histórias de redenção, como a conquista do ouro pela
judoca brasileira Rafaela Silva.
Antes
de narrar a apoteose de Rafaela, preciso regressar aos Jogos Olímpicos de 1984
em Los Angeles, quando Joaquim Cruz ganhou a prova dos 800 metros no atletismo. O atleta brasileiro obteve também a
medalha de prata na mesma prova em Seul (1988). O triunfo de Cruz inspirou
Flávio Canto à prática esportiva, que se tornou judoca e ganhou a medalha de
bronze em Atenas (2004). Flávio Canto criou o Instituto Reação, projeto social enveredado para crianças carentes.
Entre essas crianças, uma menina negra de 7 anos, oriunda da Cidade de Deus,
matriculou-se nas aulas de judô. A menina da Cidade de Deus seria agraciada com
o ouro olímpico na sua cidade natal.
Em
2012, nas Olimpíadas de Londres, Rafaela Silva foi eliminada por causa de um
golpe considerado irregular pela arbitragem. Posteriormente, ela foi
humilhada nas redes sociais por internautas racistas com comentários repugnantes,
fato que levou a futura campeã olímpica cogitar a hipótese de aposentadoria. Os
malditos insultos de “macaca” foram finalizados por Rafaela Silva, a carreira
foi retomada e a perseverante judoca angariou o título de campeã mundial,
competição realizada no Rio de Janeiro em agosto de 2013. Sem dúvida, a nossa
campeã olímpica se sente bem à vontade nos tatames cariocas.
O
ápice emergiu na primeira olimpíada realizada na América do Sul, no indelével 08 de agosto de 2016: Rafaela Silva
venceu com um wazari a judoca da
Mongólia, Dorjsürengiin Sumiyaa, líder do ranking mundial. Rafaela Silva é a
primeira judoca, entre homens e mulheres, a conquistar o Mundial e o Ouro
Olímpico. A menina da Cidade de Deus aplicou um ippon no racismo e foi premiada pela Deusa da Vitória, Nice.
O
asqueroso racismo sempre perde para o esporte. Nos Jogos Olímpicos de Berlim
(1936), a Alemanha vivia sob a égide de nazismo. Adolf Hitler desejava provar
para o mundo a supremacia da raça ariana, cuja vitória no esporte reafirmaria a
suposta supremacia, todavia, o Führer se esqueceu de combinar com Jesse Owens.
No esporte mais nobre e tradicional da olimpíada, o atletismo, o atleta negro
dos Estados Unidos ganhou o ouro nos 100
metros, 200 metros, revezamento 4 x 100 e salto em distância. Este episódio
talvez seja o mais emblemático da história olímpica. Mais uma vez, o racismo
caiu de joelhos para o esporte. Infelizmente, em pleno século XXI, o racismo
ainda está entranhado na alma da humanidade.
Em contrapartida, o esporte vem se mostrando como uma arma poderosa de
combate ao racismo, além de ser um meio de ascensão social. Histórias de vida
como a de Rafaela Silva e Jesse Owens, refletem as sucessivas e maiúsculas vitórias
do esporte na luta contra o racismo. Portanto, é imprescindível para qualquer
nação, a ênfase na prática esportiva, pois o esporte trabalha valores
primordiais na formação ética e humana de um povo.
Tosta
Neto, 13/08/2016
Excelente texto! Também considero o esporte como uma grande ferramenta para a construção de cidadania, o fomento de valores e ética, além de ascensão social. Pelas características geográficas, culturais e sociais do nosso país, temos um grande potencial para nos tornarmos uma potência olímpica. Quando o esporte se tornar prioridade na política social do nosso país, salvaremos várias vidas da marginalidade e formaremos grandes campeões do esporte e da vida. Países como Estados Unidos e China são bons exemplos disso.
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