Aloizio
Mercadante, um dos ministros mais próximos da presidente Dilma Rousseff, tentou
subornar o senador Delcídio do Amaral para que o ex-líder do PT não revelasse o
que sabia para a força-tarefa da Lava Jato. O chefe da pasta de Educação
ofereceu ajuda financeira a Delcídio para que ele não fechasse acordo de
delação premiada, homologada ontem pelo Supremo Tribunal Federal.
Em
duas conversas gravadas por um assessor de Delcídio, Mercadante se coloca à
disposição para atuar junto aos presidentes do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), e do STF, Ricardo Lewandowski, para tentar tirar o senador da cadeia
– à época da conversa, em dezembro de 2015, Delcídio estava preso justamente
por ter sido gravado tentando comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras,
Nestor Cerveró, que também fechou acordo de delação premiada.
Nos
diálogos com Eduardo Marzagão, o ministro pede para Delcídio ter calma e
avaliar muito bem a conduta a tomar. Em seguida, sem falar em valores, oferece
dinheiro ao petista. “A questão financeira e, especificamente, o pagamento de
advogados poderia ser solucionado. Eu só to aqui pra ajudar. Veja o que que eu
posso ajudar.”
Delcídio
faz questão de ressaltar na sua delação que o ministro da Educação agiu como
emissário da presidente. A proposta de compra do silêncio era ampla e
irrestrita. Além de dinheiro e lobby em defesa do petista no Senado, Mercadante
prometeu conversar com Lewandowski a fim de convencê-lo a acolher o pedido de
relaxamento de prisão durante o recesso do Judiciário.
“Eu
posso falar com ele pra ver se a gente encontra uma saída. Mas eu vou falar com
o ministro no Supremo também”, fala, sugerindo que iria encontrar um segundo
juiz da mais alta Corte do Judiciário.
Em
nota, a assessoria do STF negou “qualquer tipo de conversa” de Lewandowski como
foi citado na delação. “O ministro zela pela independência e pela
imparcialidade do exercício da magistratura”, diz a nota.
Na
segunda e mais incisiva conversa com Marzagão, Mercadante alega que seria necessário
acabar de vez com os rumores sobre a possibilidade de Delcídio fechar uma
delação. “Tem de tirar isso da pauta nesse momento. Precisa esfriar o assunto
dele. Vão vir outros. Vai vir Andrade Gutierrez, não sei quem, não sei quem, o
Zelada. Aí vai diminuindo. Precisa esfriar o caso dele”.
Outro lado
Em
entrevista coletiva dada em março, Aloizio Mercadante negou ter tentado
influenciar na decisão do senador Delcídio do Amaral de fazer uma delação
premiada. Segundo o petista, o ato foi um “gesto pessoal de solidariedade”, e
não do governo, tentando isentar Dilma. “A responsabilidade é só minha. A
iniciativa foi minha”, afirmou aos jornalistas. Horas depois, a própria Dilma
afirmou “repudiar com veemência e indignação a tentativa de envolvimento do
seu nome na iniciativa pessoal do ministro”. Mercadante se agarrou a um trecho
da conversa no qual diz não ter “nada a ver com a delação do Delcídio”. “Minha
preocupação é zero. Não estou nem aí se vai delatar ou não. A decisão é dele”,
disse na conversa gravada. O ministro disse estar disposto a dar
esclarecimentos à Procuradoria-Geral da República, ao Supremo e ao Congresso
Nacional.
(Fonte:
Último Segundo)
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