São Paulo
- Um
Brasil com mais desempregados
certamente nos espera ao longo deste ano. Se, em 2015, o País foi palco de
taxas de desemprego recordes, com mais de 8 milhões de desempregados, este novo
ano será pior, com taxa de desemprego batendo os dois dígitos.
A previsão é do economista Fabio
Giambiagi, chefe do Departamento de Gestão de Risco de Mercado do BNDES, um dos
maiores especialistas brasileiros de finanças públicas, autor das obras Reforma
da Previdência e Brasil – Raízes do atraso.
Em entrevista ao HuffPost Brasil,
o economista avisa que os trabalhadores vão sentir ainda mais o efeito da crise
econômica em 2016. "Vai ultrapassar os 10%",
sobre a taxa de desemprego medida pelo IBGE.
Se a alta se confirmar, esta
seria a maior taxa de desemprego já registrada pelo IBGE.
Contudo, Giambiagi pondera um
ponto fundamental: a PME (Pesquisa Mensal do Emprego) vai parar de ser
divulgada pelo IBGE, substituída inteiramente pela Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios) Contínua, iniciada em 2012.
Até 2015, as duas pesquisas eram
publicadas, sendo que a Pnad, na média histórica, sempre divulgou uma taxa mais
elevada que a PME. "Enquanto a PME daria uma taxa de desemprego entre 9% e
10% em 2016, a Pnad daria entre 11% e 12%."
Mesmo assim, o percentual é bem
preocupante. No terceiro trimestre de 2015, a taxa de desemprego medida pela
Pnad ficou em 8,9%.
Em números absolutos, a população
desocupada no País, mas à procura de emprego, chegava a
nove milhões de pessoas. Se a taxa subir para 12%, serão mais ou menos 12
milhões de desempregados. "Nível de dois dígitos é um elemento muito
emblemático."
O desemprego tem avançado a
níveis históricos por conta da delicada situação econômica no Brasil. Fatores
como inflação,
juros altos, dólar valorizado diante o Real, confiança dos consumidores e
empresários, além da queda de investimentos no País, influenciam o índice.
Um exemplo simples: com a
inflação alta, o consumo das famílias tende a cair e, portanto, a produtividade
de uma empresa também, para a produção se equilibrar com a oferta. Se a empresa
produz menos, ela vai ter lucro menor e, consequentemente, cortar empregos.
2016: Juros
altos, dólar caro e pequeno alívio nos preços
O que explica em parte o aumento
do desemprego é a manutenção e até piora dos fatores que influenciam a taxa. O
economista prevê um primeiro semestre difícil, com a continuação das tendências
observadas ao longo doe 2015.
A inflação, por exemplo, deve
aumentar nestes primeiros meses de 2016, pressionada por ajustes de início de
ano na educação, como escolas e material escolar, e condomínio.
"Depois destes meses, a
tendência é de queda. Poderemos observar uma trajetória declinante, esperando
que, até o final do ano, pode chegar até ao teto da meta no final do ano, de
6,5%", projeta.
O possível alívio da inflação em
relação a 2015, segundo o economista, se deve à trégua das altas nos preços
administrados, como da energia, que no ano anterior tiveram sucessivos
aumentos. "Acho que a tendência é de que o BC aumente os juros, o que
certamente vai ser um elemento negativo de curto prazo para a dinâmica da
atividade, mas, será um movimento consideravelmente importante para recolocar a
inflação dentro da banda [meta]."
A Selic, taxa básica de
juros da economia, é a principal ferramenta do Banco Central para controlar a
inflação. Se a taxa de juros sobe, o crédito fica mais caro, o banco consegue
frear o consumo e, como consequência, a inflação cai. Por outro lado, em tempos
de baixo consumo, a taxa básica de juros pode cair, aquecendo, assim, o mercado
de crédito e de consumo.
Giambiagi analisa que o Banco
Central está "preocupado" com a possibilidade do teto da inflação ser
ultrapassado pelo segundo ano consecutivo. "A curto prazo, o que determina
a dinâmica da inflação são os juros [Selic] e o câmbio."
Sobre o câmbio, o economista
prevê que, assim como em 2015, a variação do dólar ante o Real será
influenciada pelo cenário político e pelo exterior, mas deve ficar no mesmo
patamar de 2015, em média. Ou seja, dólar a R$ 2 não se verá tão cedo.
Apesar de o dólar valorizado
frear o consumo no exterior e diminuir as viagens internacionais dos
brasileiros, ele ajuda a balança comercial do Brasil, assim como incentiva o
turismo nacional.
Já sobre os juros, a previsão é
que só comecem a baixar em 2017. "Durante boa parte de 2016 vai ser
difícil."
O País também sentirá os efeitos
da retirada do selo de bom pagador pelas duas agências de classificação de
risco, Standard & Poor's e Fitch, afirma Giambiagi.
O economista vê como certo o
rebaixamento pela Moody's, mas acredita que o impacto será um pouco menor.
"Já tendo ocorrido dois rebaixamentos, o efeito será limitado. 100% dos
analistas já sabem que ela vai rebaixar também, senão ficará muito
destoante."
Entre os setores que mais vão
sofrer com a continuação da crise econômica neste ano, estão aqueles associados
a investimentos. "Além do País perder o selo de bom pagador, outros
investimentos e empresas serão impactados pelos desdobramentos de operações
contra a corrupção, como a Lava-Jato. Enquanto o panorama não clareia, serão
anos horríveis em matéria de investimento.”
Por outro lado, Giambiagi vê uma
melhora nos setores ligados à exportação, pela valorização do dólar. O setor de
serviços, um dos maiores geradores de emprego, também deve ter um ano ruim, mas
tende a ter alguma melhora no final do período.
(Fonte: Exame.com)
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