Em
tempos de outrora, o Futebol Brasileiro encantava pela sua versatilidade e
capacidade de improvisação, com a conquista de Copas do Mundo vencidas na base
do talento. 1958, Didi, o “príncipe etíope” e pai do chute folha seca; Pelé, um garoto de 17 anos que fizera um gol antológico
na final contra a Suécia, “chapelando” o zagueiro e finalizando de forma
magistral. 1962, Garrincha, o “anjo das pernas tortas”, entortou com dribles
desconcertantes vários “joões”. 1970, seleção brilhante, celeiro de camisas 10
– Pelé, Gerson, Rivelino e Tostão – e o camisa 7 que fez gols em todos os
jogos, o eterno ídolo do Botafogo e “furacão de 70”, Jairzinho.
Na
última década, o maior orgulho do nosso futebol, a Seleção, caiu em um
pragmatismo tático; não esqueçamos da entressafra de jogadores talentosos que
possam sustentar a pesada amarelinha.
O ápice da crise foi o impagável e tétrico 7 x 1, cifra que já virou conceito
para definir um vexame. Neste ínterim, assistimos o advento de Neymar, jogador
que faz jus à tradição futebolística do Brasil. Habilidoso, ambidestro,
atrevido, preciso nos passes, aguçado faro de gol e principal revelação dos
derradeiros anos.
Neymar foi lapidado na iluminada divisão de
base do Santos, formando com Paulo Henrique Ganso, a segunda edição dos Meninos da Vila, geração vitoriosa que
ganhou campeonatos paulistas, Copa do Brasil e Libertadores da América, este
último, o Alvinegro Praiano não
conquistava desde 1963. Em 2013, transferiu-se para o Barcelona numa polêmica
negociação, até hoje, envolta em névoas. Explicitamente, foi um desafio para
Neymar jogar e conquistar espaço no Barça, maior vencedor da Champions League no Século XXI, elenco
constituído por craques – Iniesta, Xavi e Busquets – cuja estrela maior, a
Aldebarã da constelação de Touro, é Lionel Messi, um dos maiores atletas de
todos os tempos.
A primeira temporada no time culé foi mediana
para a joia brasileira: apresentou lampejos de gênio e número parco de gols.
Porém, na segunda temporada, os ventos mudaram, e Neymar foi imprescindível na
conquista do Triplete pelo Gigante da
Catalunha, além de ter marcado o gol do título contra La Vecchia Signora na final da Champions
League, a maior competição de clubes do mundo. Certa vez, ouvi um
comentário pouco robusto sobre Neymar: “ele é um jogador que some em decisão”.
Os fatos apontam o contrário: gols nas finais do campeonato paulista, Copa do
Brasil, Copa das Confederações, Libertadores da América e a já citada Liga dos
Campeões. Não me lembro de outro jogador que tenha feito gols na final das duas
principais competições continentais do mundo. Outra informação errônea
propalada nos bate-papos é que o craque brasileiro não joga bem na Seleção,
todavia, a estatística nos aponta outra ótica: com apenas 23 anos, 46 gols em
67 partidas, média aproximada de 0,7 gol por partida e 5º maior artilheiro.
No Barcelona, Messi, Suarez e Neymar, o
aclamado e letal Trio MSN, já formam
o ataque mais avassalador em quantidade de gols por temporada na história do
atual campeão espanhol. Graças a números expressivos e títulos maiúsculos,
Neymar foi indicado à Bola de Ouro,
concorrendo com Messi e Cristiano Ronaldo, o prêmio de melhor jogador do mundo
em 2015; a última indicação para um jogador brasileiro foi para Kaká no
distante ano de 2007. Mesmo agraciado pela deusa Fortuna, Neymar teve o azar (ou sorte) de fazer parte duma geração
pouco talentosa do Futebol Brasileiro, o que torna a vitória na Copa do Mundo
um triunfo quase hercúleo. Se Nelson Rodrigues estivesse vivo, chamaria Neymar
de Robinson Crusoé do Futebol
Brasileiro, obra clássica de Daniel Defoe, que narra a história de um náufrago
isolado numa ilha. Até quando Neymar continuará ilhado na Seleção Brasileira?
Tosta Neto, 04/12/2015
Tosta Neto é Escritor, Historiador e Colunista no Outro Olhar . |
Excelente crônica sobre o nosso único talento legítimo, digno dos melhores da nossa história. A analogia com Robinson Crusoé também foi excepcional! O que me impressiona no Neymar é a naturalidade com que enfrenta (e supera) as responsabilidades e expectativas jogadas em seus ombros. Ele é gigante não apenas no futebol, mas também na personalidade. Possui a frieza dos grandes. É questão de tempo para que se torne o melhor do mundo. Nesta última eleição talvez ele seja a zebra, pois o Barcelona ganhou tudo e o Messi ainda é visto pela imprensa internacional como o principal nome da equipe e Cristiano Ronaldo fez gols em escala industrial e carregou o Real Madrid nas costas em várias momentos, contudo, a vez do camisa dez do Brasil chegará. Caso a eleição para o melhor jogador fosse feita agora, o Neymar venceria, porém, o que contará, penso eu, será o última temporada. O português e o argentino estão na faixa ou próximo dos 30 anos, assim sendo, será normal uma queda técnica e física dos dois, abrindo espaço para o brasileiro reinar. Atuando em uma equipe extremamente categorizada, os títulos e os recordes virão como consequência. Espero que o seu brilho ajude a resgatar a luz que anda tão apagada do nosso futebol.
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