Um dos tesouros mais icônicos do Egito antigo - a grande
máscara de ouro de Tutancâmon - pode não ter sido feito para o faraó. Segundo
novo estudo do arqueólogo britânico Nicholas Reeves, o objeto foi feito
originalmente para uma mulher, provavelmente, a rainha egípcia Nefertiti. De
acordo com a pesquisa, publicada na última edição do periódico Journal
of Ancient Egyptian Interconnections, o episódio tem ampla importância
histórica, pois, além de a máscara ser considerada um objeto de grande
importância cultural, ela também poderá ser vista como o símbolo da primeira
luta ideológica conhecida entre monoteísmo e politeísmo.
A evidência, encontrada por Reeves,
que sugere que a grande máscara mortuária de ouro de Tutancâmon tenha sido
feita originalmente para Nefertiti, apareceu após um exame detalhado de uma
inscrição no artefato. A análise mostrou que o hieróglifo que continha o nome
de Tutancâmon, na verdade, foi escrito sobre outro texto, o título completo e
oficial usado por Nefertiti após ela ter se tornado a "co-faraó" do
Egito. A nomenclatura antiga dizia "Ankhkheperure-Meryt-Neferkheperure
Neferneferuaten" (em tradução livre, "Manifestação viva do Deus Sol,
Amada de Aquenáton e Beleza do Sol").
Além disso, segundo o arqueólogo,
outros tesouros que estão na tumba de Tutancâmon - estatuetas e os caixões que
guardam o corpo e os órgãos do faraó - também podem ter sido feitos,
inicialmente, para outros membros da realeza antiga, como Nefertiti.
A máscara da rainha - De acordo com os cientistas, a
resposta por que a máscara da rainha foi entregue ao faraó provavelmente reside
na difícil situação política que ocorreu no Egito, durante o colapso de um
experimento monoteísta que ocorreu há cerca de 3.350 anos. Nefertiti, a
possível "proprietária" da famosa máscara mortuária de ouro de
Tutancâmon, era a esposa do líder que promoveu a revolução monoteísta, o faraó
Aquenáton. Segundo investigações, existe a probabilidade de que a rainha também
tenha sido uma das responsáveis pela tentativa de reforma religiosa no país
conhecido por seus vários deuses.
As pesquisas indicam que, uma década
após Aquenáton e Nefertiti lançarem a revolução religiosa, o Egito teria sido
atingido por uma terrível epidemia. Desesperado para assegurar a continuação da
nova religião monoteísta e, talvez, com medo da morte, o faraó decidiu nomear
sua esposa, Nefertiti, como a co-regente.
Após alguns meses, vítima da
epidemia, Aquenáton morreu. Na época, o filho dele de oito anos, Tutancâmon, tornou-se
faraó, mas Nefertiti continuou atuando como rainha. Durante esse período, ela
tentou encontrar um meio-termo entre o sistema politeísta antigo e o monoteísta
novo, mas morreu em três anos.
Entretanto, Nefertiti havia feito os
preparativos para a sua própria morte, pois esperava ser enterrada como um
faraó do Egito, com a máscara mortuária de ouro faraônica. Mas, após o
falecimento da rainha, dois generais de orientação religiosa tradicional
tomaram o poder egípcio, manipulando Tutancâmon e obrigado o faraó a abandonar
a tentativa de reforma religiosa para retornar ao politeísmo tradicional.
Sendo assim, essa nova evidência
sugere que a máscara mortuária de Nefertiti nunca foi usada em seu funeral ou
em seu túmulo - foi armazenada e, posteriormente, "reciclada" para
ser utilizada em Tutancâmon. Por isso, se a teoria for confirmada, além de ser
um objeto histórico e artístico, a máscara também poderia se tornar um símbolo
que retrata o que pode ter sido a primeira luta religiosa entre o monoteísmo e o
politeísmo.
Além disso, segundo Reeves, outros
tesouros que estão na tumba de Tutancâmon - estatuetas e os caixões que guardam
o corpo e os órgãos do faraó - também podem ter sido feitos, inicialmente, para
outros membros da realeza antiga, como Nefertiti.
A
câmara secreta - A busca pela rainha na tumba de
Tutancâmon teve início após a publicação, em julho, de um estudo de Reeves, em que ele afirma que, ao
observar alguns detalhes das paredes da sepultura do faraó notou que elas
poderiam abrigar duas câmaras secretas que foram fechadas e camufladas. Uma
delas guardaria a múmia de Nefertiti,
que viveu entre 1380 a.C e 1345 a.C, e foi conhecida por sua beleza. A outra
seria uma sala de armazenamento.
Em 22 de outubro, autoridades
permitiram o uso de radares durante a busca, porque esse tipo de tecnologia não
afeta o estado dos muros interiores do sepulcro. Além disso, segundo Mamduh al
Damati, ministro de Antiguidades egípcio, se as câmaras forem encontradas, essa
poderia ser "a maior descoberta arqueológica do século".
Rainha
misteriosa - Em setembro, Reeves viajou até o Vale
dos Reis, em Luxor, para participar de inspeções que ajudariam a confirmar a
localização da múmia da rainha. As ranhuras previstas por ele em seu estudo foram encontradas no fim de setembro. Damati afirmou em
outubro que espera que o enigma sobre a possibilidade de encontrar a tumba de
Nefertiti por trás da de Tutancâmon seja resolvido antes do final do
ano. O ministro também se mostrou seguro de que exista "algo"
por trás da câmara do jovem faraó, embora tenha deixado dúvidas sobre o fato de
que seja o sepulcro da rainha do Antigo Egito.
Segundo Damati, outras duas mulheres
egípcias poderiam estar enterradas em câmaras dentro da tumba de Tutancâmon: a
rainha Meritaton, filha e mulher de Aquenaton, ou Kiya, mãe de Tutancâmon.
(Fonte: Veja)
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