segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Editora 247 recebeu propina a pedido de Vaccari, diz Moro em despacho


SÃO PAULO - A Editora 247, representada pelo jornalista Leonardo Attuch e que edita o site Brasil 247, recebeu pelo menos R$ 120 mil do esquema de corrupção da Petrobras, a pedido do ex-tesoureiro do PT João Vaccari. Segundo um dos delatores da Operação Lava-Jato, Milton Pascowitch, o dinheiro pago à editora foi dado sem a prestação de qualquer serviço e tratou-se de uma operação "para dar legalidade ao apoio que o Partido dos Trabalhadores dava ao blog mantido por Attuch". Os pagamentos foram feitos nos meses de setembro e outubro de 2014.

Milton Pascowitch relatou em seu depoimento de delação premiada que repassou, por meio de sua empresa de consultoria Jamp, valores para a empresa Consist Software destinados ao Partido dos Trabalhadores, através de João Vaccari. Nesse operação, eram usados contratos de consultoria simulados entre a Jamp e a Consist no total de R$ 15 milhões. Os contatos com a Consist, eram feitos com o presidente da empresa Pablo Alejandro Kipersmit e com o diretor jurídico Valter Silverio Pereira.

Segundo diz o juiz Sérgio Moro em sua decisão que determinou a prisão do ex-ministro José Dirceu, "os repasses de cerca de R$ 12 milhões, teriam sido feitos em espécie (dinheiro vivo). Parte dos valores teria sido recebida por uma emissária com o nome de Marta Coerin. Parte dos valores teria sido repassados a pedido de João Vaccari, para a empresa Gomes & Gomes Promoção de Eventos e Consultoria, mediante simulação de contratos de consultoria com a Jamp Engenheiros".

Segundo a investigação da PF, Marta foi funcionária do PT entre maio de 2006 e setembro de 2007 e voltou a ser empregada registrada pelo partido em maio de 2015. Moradora de Santo André, no ABC, Marta é irmã gêmea de Maria Coerin, que trabalhou para o PT de julho de 2006 a junho de 2011. Maria foi registrada como secretária executiva da JD Assessoria e Consultoria, empresa de José Dirceu, entre julho de 2011 e janeiro de 2013
O juiz sustenta que parte dos valores dessa propina teriam sido direcionados, a pedido de João Vaccari, para a Editora 247, por meio de simulação de contrato de prestação de serviço.

Para tratar do repasse do dinheiro da Consist para a Editora 247, Vaccari solicitou a Pascowitch que fosse feita uma reunião com Leonardo Attuch, da 247. A reunião foi realizada no escritório de Pascowitch na avenida Faria Lima. Vaccari propôs a veiculação de um contrato de 12 meses, com parcelas de R$ 30 mil cada. Pascowitch não concordou "e realizou dois pagamentos referentes à elaboração de material editorial no valor de R$ 30 mil cada uma". Na sequência foram feitos mais dois pagamentos através de uma nova solicitação de Attuch, totalizando R$ 120 mil repassados à Editora 247.

De acordo com depoimento de Pascowitch, não houve qualquer serviço prestado pela Editora 247. "Na reunião que tive com Attuch ficou claro que não haveria qualquer prestação de serviço mas que era uma operação para dar legalidade ao 'apoio' que o Partido dos Trabalhadores dava ao blog mantido por Leonardo". Pascowitch disse também que o valor pago foi "abatido" do montante que estava à disposição de João Vaccari referente ao contrato da Consist.

Milton Pascowitch disse ter provas da troca de emails entre Attuch e José Adolfo, irmão de Pascowitch, que mostram os pagamentos e a emissão de notas fiscais. O contrato da Jam com a Editora 247 foi realizado no dia 12 de setembro de 2014 "visando a produção de conteúdo jornalístico e de estudos especiais na área de infraestrutura, para publicação no jornal eletrônico 247".

"Considerando que a Jamp era, como afirma seu próprio titular, empresa dedicada à lavagem de dinheiro e repasse de propinas, parece improvável que o conteúdo do documento seja ideologicamente verdadeiro, pois difícil vislumbrar qual seria o interesse de empresa da espécie em anunciar publicidade ou patrocinar matérias em jornal digital", diz Moro em seu despacho.

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O juiz disse ainda que durante a investigação já havia sido apreendida anotação no escritório de lavagem de dinheiro do doleiro Alberto Youssef com referência a pagamentos a Leonardo Atuch. "Aqui, da mesma forma, parece improvável que o escritório de lavagem de Alberto Youssef tivesse interesse em publicidade ou em patrocinar matéria em jornal digital. Esses fatos indicam prováveis repasses de valores de origem criminosa à referida Editora e ao suposto jornalista a pedido de terceiros e com propósitos ainda de necessário esclarecimento".

Não é a primeira vez que o jornalista é alvo de denúncia. Na Operação Satiagraha, que investigou o banqueiro Daniel Dantas, ele foi acusado pelo jornalista Mino Pedrosa de usar o cargo e função na revista IstoÉ Dinheiro, quando trabalhava para ela, para defender o banqueiro e o investidor Naji Nahas em troca de dinheiro. Na época, Attuch disse que a acusação era “absolutamente leviana” e apontou Pedrosa de ter interesses em jogo naquele caso. A Operação Satiagraha foi anulada pela Justiça.

O GLOBO encaminhou e-mail à Editora 247 pedindo esclarecimentos, mas até o momento ainda não obteve resposta.
 (Fonte O GLOBO)

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