Mascar
chiclete é transgressão leve. Usar óculos com lentes ou armações de "cores
esdrúxulas" também, segundo o regulamento disciplinar dos colégios da
Polícia Militar de Goiás.
São
transgressões médias: sentar-se no chão fardado, espalhar boatos, deixar de
prestar continência ou de cortar o cabelo no estilo escovinha.
Já
"manter contato físico que denote envolvimento amoroso" (beijar) ou
se meter em rixa são faltas graves. O aluno perde pontos a cada quebra de
regra. Quem não se adéqua é transferido.
Na
última semana, oito colégios goianos voltaram das férias nesse molde, o que fez
com o que Estado pulasse de 18 para 26 colégios militares. Considerado um
retrocesso por alguns educadores, o sistema que mantém policiais na direção das
escolas está em expansão em Goiás. O governador Marconi Perillo (PSDB) pretende
acabar o ano com 24 novas instituições.
Segundo
a polícia, o modelo melhora o desempenho dos alunos (em nove Estados os
colégios ficaram em 1º entre as estaduais no Enem ).
O
Brasil possui atualmente 93 instituições de ensino da PM. Neste ano, Minas
criou mais duas, chegando a 22 –elas atendem mais de 20 mil alunos. A Bahia,
com 13, deve abrir mais quatro.
Em
Goiás, o comerciário Ricardo Cardoso, 41, que tem duas filhas em escolas da PM,
quer colocar a terceira na instituição em 2016. A maioria das vagas é
preenchida por sorteios. "O nível dessas escolas é muito melhor."
Sua
filha Júlia, 17, diz gostar do colégio Hugo Ramos, mas reclama da rigidez.
"Um ou outro PM é rude. Mas a maioria é aberta." Para o pai, os
alunos têm "voz ativa". "Sempre que minha filha reclamou, deram
resposta. Adolescentes reclamam de tudo."
FARDAMENTO
Aluno
do terceiro ano do colégio Miriam Ferreira, que se tornou militar na semana
passada, Douglas Fleury, 17, diz aprovar a mudança devido ao uso de drogas
dentro da escola. O problema, para ele, pode ser a farda. "Alguns não vão
ter como comprar."
A
PM diz dar a farda (varia de R$ 400 a R$ 700) em alguns casos. Os pais pagam
ainda mensalidades (de R$ 80 a R$ 110), não obrigatórias.
Para
não desfalcar efetivo, a PM recorre a oficiais da reserva, que ganham
adicional. Os docentes são civis –em outros Estados, alguns são militares– e
ganham bônus de produtividade.
Diretor
de colégio de Anápolis (GO), o sociólogo e capitão da PM Sirismar Silva diz que
a polícia nas escolas não é ideal. "Mas é bom ouvir dos pais que seus filhos
tiveram a vida mudada para melhor."
"Isso
tem sabor de retrocesso", diz Ieda Leal, do Sindicato dos Trabalhadores em
Educação de Goiás. Ela chama a medida de terceirização.
Para
Maria Augusta Mundim, da Faculdade de Educação da federal de Goiás, o método é
autoritário. "Cai por terra busca por autonomia e de construção de
identidade."
ESCOLAS DA PM
Modelo de colégios dirigidos por
policiais está em expansão no país
COMO
FUNCIONAM? Alunos têm de comprar farda, prestam continência e falam
"senhor" e "senhora". Descuidos com a higiene podem causar
punição. São ensinadas "noções de cidadania" em sala de aula. Há
professores PMs, mas a maioria é de civis. Os diretores pertencem à corporação.
Estudantes que se destacam ganham condecorações, mas quem não se adapta é
transferido.
PRÓS
Segundo as polícias, a disciplina melhora o desempenho dos alunos em provas
como o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e o Enem. É o melhor
modelo para colégios localizados em áreas violentas, onde há tráfico de drogas
e prostituição, de acordo com a PM.
CONTRAS
Para educadores, o modelo padroniza comportamentos, inibe questionamentos e
impede que se crie uma perspectiva crítica nos alunos. Sindicatos consideram
uma forma de terceirização da educação.
(Fonte: Folha de S. Paulo)
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