No
século XXI, o advento do ensino superior transformou Amargosa num polo
universitário. Uma revolução educacional jamais vista na história desta amarga
cidade, pois provocou uma corrida tresloucada pelo conhecimento. A educação
passou a ser prioridade, posicionada no patamar equiparável aos países de
Primeiro Mundo.
As pessoas invadiram e lotaram as
incontáveis bibliotecas, sedentas para devorar os Clássicos da Literatura
Universal. Na esfera comercial, várias livrarias foram abertas, objetivando
sanar a demanda desenfreada pela leitura. Em Amargosa, visualiza-se uma
situação sui generis: há mais
livrarias que bares. Quando caminho pelas praças, fico feliz em observar
leitores debruçados e absortos em Machado de Assis, José de Alencar, Goethe, Eça
de Queirós, Gustave Flaubert...
Amargosa passou a abrigar em seu ventre um
público universitário pujante que visa essencialmente a apreensão da sabedoria.
O aroma de estudo exala pelos quatro cantos da “Cidade Jardim”, cujo vigor é
incrementado por um assomar de cursinhos cheios de estudantes. Diálogos entre
as universidades e a comunidade ensejaram a valorização da cultura local, esta
última, frutificada por uma sensibilidade artística que aflorou com o hábito da
leitura. Ademais, a Feira Amargosense do
Livro conquistou o seu espaço no calendário da literatura nacional,
rivalizando com a Festa Literária
Internacional de Cachoeira.
A inspiração pelos estudos é tão estupenda
que ecoou nos representantes dos poderes executivo e legislativo. Nossos
governantes adotaram O Contrato Social
de Rousseau como “livro de cabeceira” e passaram a atuar em prol dos anseios do
povo; os interesses pessoais foram peremptoriamente aniquilados e o ideal de
estadista foi consolidado no campo da práxis. Ao ouvir os políticos de
Amargosa, eu sou persuadido a ler Do
Cidadão de Hobbes, Segundo tratado
sobre o governo de John Locke e a Utopia
de Thomas Morus. Os governantes amargosenses possibilitaram a corporificação do
conceito de “filósofo-rei” da obra A
República.
Consoante o que testemunho no dia a dia,
concluo que Amargosa se tornou a Atenas do Vale do Jiquiriçá, uma espécie de pólis educacional que reviveu a Academia de Platão, o Liceu de Aristóteles e a famosíssima
Biblioteca de Alexandria. Inestimável leitor, eu não nego para ti, meu amor
pela leitura, o qual, conduziu-me à arte da escrita e, graças aos Deuses do
Olimpo, moro na cidade que trata a leitura e a educação como primazia fazendo
jus à “Pátria Educadora”.
Tosta Neto, 15/07/2015
Tosta Neto é Escritor e Historiador, Colunista do Outro Olhar Amargosa. |
Certa vez, ouvi de uma colega a seguinte frase: "odeio os cínicos, mas adoro os irônicos". Realmente, a ironia é um recurso estilístico dos mais eficazes, no sentido tanto de provocar o riso a partir de construções tão absurdas que só poderiam ser ilusórias (como a própria vida), quanto para detonar reflexões a partir do contraste do mundo construído e a realidade vivenciada. Não por acaso, mestres como Machado de Assis e Gregório de Matos usaram e abusaram desse recurso, cada um ao seu modo. O texto acima possui uma ironia tão sutil e elegante que, caso eu não morasse em Amargosa, chegaria a acreditar literalmente no autor. Contudo, duro é constatar que, por dentro da casca de ilusão, existe um recheio de verdade que não gostaríamos que fosse verídico. Evidentemente que a UFRB trouxe uma melhoria econômica, social e educacional para a cidade, porém, não tanto cultural, pelo menos do tamanho em que se esperava. Hoje, boa parte dos novos universitários que adentram na UFRB (embora não apenas nela), acham que Universidade é o que se vê em filmes de besteirol americano como os "American Pie" da vida. Acreditam que frequentar um curso universitário é usar drogas, se vestir e se comportar de maneira exótica e questionar tudo. Pode até ser isso também, mas que esteja incluído em uma linha de pensamento crítico, filosófico e existencial. É necessário ser antes acadêmico, ou seja, ler e estudar muito, antes de sair por ai gritando palavras de ordem sem saber exatamente para quê está fazendo isso. É preciso conhecer, refletir para depois transformar. Mesmo na vida boêmia, é preciso ter conteúdo para ser debatido entre uma bebedeira e outra e não apenas a "cachaça pela cachaça". Só a partir da formação de cidadãos realmente cultos e críticos, poderemos dar uma guinada na realidade cultural do nosso município. Oxalá aconteça!
ResponderExcluirCaro Geisson, teus comentários são brilhantes; aprendo muito ao lê-los. Muito obrigado pela leitura e análise deste singelo texto! Abraços.
ExcluirBoa crítica gosto muito do seu jeito sarcástico de ser... rsrsrsrs As ondas dos assaltos, vilipêndios e homicídios tem feito da nossa doce Amargosa, uma cidade com perfil espartano, motivo este que não sou e nem serei capaz de justificar... Porem, na pequenez do meu universo, digo que talvez esta falta de amor, seja fruto das carências de um mundo globalizado e contemporâneo, desassistido de "quase tudo", onde "estudar é sacrifico".
ExcluirMais triste ainda é saber que outrora a efervescência cultural em Amargosa, era bastante caudaloso e hoje sou capaz de assistir de camarote um retrocesso...
Mas, com qual interesse uma cidade com resquícios coronelista, com uma latente pseudo burguesia, apoiada na ideia de sociedade... onde os clãs ditam e ditaram as regras e sempre buscaram rechaçar a grande massa da sociedade. Viabilizariam o florescimento e o aumento do capital cultural se a ignorância até os dias de hoje é a maior ferramenta de um sistema excluidor?!
Não querendo achar culpados, Mais sei que tudo poderia está um pouco melhor, pois a quase 10 anos Amargosa conta com um Campi universitário. Infelizmente, "o lobo da ignorância", a apatia ao sistema e a estagnação politica e cultural tem sido mais forte que a sede da buscar do conhecimento.
Fatos, atos e a certeza que alguém falhou ou nós falhamos!!!
Jai, desde já, muito obrigado pelas considerações. Infelizmente, o retrocesso cultural que você cita é muito evidente.
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