No
último sábado (27/06/2015), a eliminação do Brasil pelo Paraguai na quarta de
final da Copa América, revelou em parte a transitoriedade sentimental do
torcedor brasileiro com a seleção de futebol. Ao longo da história das Copas,
esta relação inconstante foi construída a partir duma amálgama de choros,
risos, elogios e xingamentos. É inegável o poder de atração e repulsão que a
Seleção Brasileira exerce nos torcedores.
Historicamente, o ideal de patriotismo não
está bem elaborado no nosso país, contudo, durante a Copa do Mundo emerge um
estado que foge da regra histórica. Até a permanência do Brasil na Copa, o
torcedor ostenta o verde e o amarelo com
toda vaidade e orgulho. A Seleção Brasileira “persuade” o torcedor ao cantar do
hino e ao abraçar da bandeira nacional. Após a derrota – vale salientar, que
qualquer eliminação da Seleção na Copa é traumática, seguida por um clímax
coletivo de ira – o verde e o amarelo
são desbotados pela revolta da torcida.
Percebe-se que o vínculo do torcedor e a
Seleção não está pautado na fidelidade. Muitos torcedores preferem o título de
seu time em detrimento do triunfo na Copa do Mundo. O autor que vos escreve é
um exemplo: eu prefiro a conquista do tetra da Libertadores da América e do
Mundial Interclubes pelo São Paulo do que o aclamado “Hexa”, cujo sonho foi
adiado pelo indelével e trágico 7 x 1. Prezado leitor, pergunte aos torcedores
do Bahia e do Santa Cruz o que eles preferem; depois de ouvi-los, quiçá tu
concordes com o meu simplório argumento.
No futebol brasileiro é imprescindível que
o jogador vença uma Copa do Mundo para ser eternizado na memória coletiva.
Jogadores limitados na parte técnica e que não tiveram carreiras tão vitoriosas
nos clubes, haja vista Dunga e Mauro Silva no Mundial de 1994, graças ao êxito
na Copa, escreveram com letras maiúsculas os seus nomes no Panteão do Futebol
Brasileiro. Em contrapartida, o brilhante Zico que teve uma carreira
irretocável no Flamengo, não tem a devida reverência somada a críticas
negativas pouco contundentes: “foi um grande jogador, mas não ganhou a Copa do
Mundo”; “ele perdeu um pênalti contra a França na Copa de 1986”. Sejamos
prudentes, um jogador não deve ser avaliado exclusivamente pelo seu desempenho
em Copa do Mundo.
Vintes Copas se foram, outras virão e algo
ficará estático: o elo entre o torcedor e a Seleção Brasileira. Com a conquista
do Penta e a presença em todas as edições da Copa do Mundo, o torcedor
brasileiro ficou mal-acostumado com a sua seleção. Não há outro resultado senão
o 1º lugar. A torcida é muito exigente com o “time canarinho”: não basta
vencer, “é preciso dar espetáculo”. O jogador da Seleção não é apenas um
singelo jogador de futebol, é também artista, herói, vilão e pop-star. Neste
turbilhão de amor e ódio, euforia e frustração, vitórias e derrotas, atesta-se
que a força avassaladora do tempo será incapaz de destruir a relação paradoxal
entre o torcedor e a Seleção Brasileira.
Tosta Neto, 29/06/2015
Tosta Neto é Escritor e Historiador, Colunista do Outro Olhar Amargosa. |
Ótima reflexão! Não há como ser nacionalista com tantos políticos e dirigentes sacanas.
ResponderExcluirSe o Futebol brasileiro fosse gerido por homens íntegros este esporte poderia ser uma grande industria de empregos de qualidade. Poderia empregar milhões se fosse tratado do mesmo modo que o cinema é tratado nos E.U.A como uma industria internacional.
Nelson Rodrigues disse certa vez que o brasileiro é um "Narciso às avessas, o sujeito que olha no espelho e cospe a própria face". Fruto da sua longa história de colonizado, explorado, sufocado pela ideologia de colorido europeu imposta pela elite nacional que tentou impor costumes e ideias do Velho Mundo, que disseminou a tese que o nosso atraso civilizatório era consequência da miscelânea étnica que o originou, o povo brasileiro, com o seu eterno "complexo de vira-latas", enxergou no futebol a sua redenção. Diante de uma imagem tão negativa do país e sobre si mesmo, cabia ao jogo inglês o papel ressignificador que visava mostrar um novo lado dos brasileiros para os brasileiros. Acredito que a paradoxal relação dos nossos compatriotas com a nossa seleção é muito em função da nossa fé sobre nós mesmos ser correspondida ou não. Somos humildes em tudo, menos no futebol, pois é, possivelmente, a única coisa em que nos consideramos melhores do que qualquer outro. Isso é histórico. Em períodos de Copa do Mundo isso se manifesta mais efusivamente, pois é o período das grandes "batalhas" contra as outras nações do mundo. Momento de mostrar a nossa força. Contudo, despencamos da nossa imagem de Sansão quando perdemos uma Copa ou um jogo (os outros sempre são Davi). Exigimos jogo bonito, técnica, raça e magia e quando não somos saciados acreditamos que fomos traídos na nossa fé, que a nossa seleção nos prometeu um sonho de grandeza e deveria tê-lo cumprido. Esqueceríamos das nossas agruras, da corrupção disseminada, da violência e de todas as mazelas se a fantasia se tornasse real. A derrota dos pentas campeões nos trazem a realidade de volta e liquida a nossa fé. Resta-nos focar em outras ilusões (religiosas, ideológicas ou de outras ordens). O homem tupiniquim olha-se no espelho e diz: espelho, espelho meu, existe alguém mais feio do que eu?"
ResponderExcluirGeisson, teu comentário foi brilhante: não tenho palavras para definir a riqueza do mesmo. Grato por contribuir com comentários tão enriquecedores. Abraços!
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