quinta-feira, 21 de maio de 2015

E se Deus não criasse Adão...


    Desde os tempos pós-jurássicos, a humanidade se arvorou na teia do egocentrismo. A capacidade de raciocinar ensejou a construção do império inconteste dos seres humanos na Terra. A luta desvairada pela sobrevivência foi decisiva no esfacelamento da simbiose entre o homem e a natureza. Percebe-se, que o domínio da razão serviu como álibi para todas atrocidades e vícios da humanidade.
    A decadência humana foi ratificada com a Revolução Neolítica, cujo aumento significativo da produtividade viabilizou a sedentarização e a semeadura das primeiras cidades. A vida na urbe exerceu influência no desencantamento pela natureza. Ao longo da história, o ser humano, aparentemente, passou a se sentir como um corpo estranho no meio natural. Os românticos propuseram a idealização da natureza, porém, as suas ideias foram desprezadas; o caos da urbanização sufocou o bucolismo. 
    O tal excedente da produção suscitou as trocas comerciais, pavimentando cada vez mais o modo de viver citadino, que teve como ápice a Revolução Industrial. A busca incessante por matéria-prima teve como consequência uma verdadeira pilhagem dos recursos naturais. O homem tem sido implacável no extermínio do planeta. A conquista de território se tornou peça-chave no tabuleiro das nações.
    Tantas guerras ceifaram a vida de milhões de inocentes. Tantos genocídios ultrajaram a honra de pais e mães de família. Infelizmente, eu não conheço outros planetas, mas, parece que a Terra se tornou o pior lugar do Universo para se viver. A humanidade deveria aprender com os animais e as plantas o senso de equilíbrio e interação com a natureza. “Ser humano” é uma mera conceituação metafísica que não tem a mínima conexão com a realidade.
    Em pleno século XXI, o homem já sinalizou que não aprenderá a ser humano. Prezado leitor, com toda franqueza, sinto que não tenho alternativas para sair desse labirinto construído pelos humanos. Queria tanto fugir deste planeta e caminhar pelos anéis de Saturno ou quem sabe, vasculhar a vastidão de Júpiter e jogar futsal com meus amigos nas quadras frias de Urano. Se eu não pudesse viajar pelo Universo, eu me contentaria em ir embora para Pasárgada. Por que a humanidade transformou a Terra em um lugar insuportável? Como seria o mundo sem os seres humanos? E se Deus não criasse Adão...

Tosta Neto, 20/05/2015

Sobre o Autor:
Tosta Neto Tosta Neto é Escritor e Historiador, Colunista do Outro Olhar Amargosa.

Um comentário:

  1. Alguns anos atrás, ouvindo a homilia de um determinado padre, ele disse as seguintes palavras: "o homem morrerá afogado em dinheiro, pois, por ele, rouba, mata, destrói a natureza e tudo ao seu alcance." Penso que a humanidade comete as suas grandes falhas a partir do momento em que se afasta da sua essência, que está nas coisas simples, na natureza e na necessidade de ser e fazer feliz. Vivemos em um mundo cada vez mais imbecilizante, em que o conhecimento, a reflexão e as trocas de experiências são barganhadas pelo prazer fácil e vulgar. Em que as pessoas, cada vez mais, valorizam o que é medíocre, tolo, fútil e estéril. As falsas aparências escondem mentes desertas, ocupadas por wthatsapps, músicas alienantes e roupas de "marca". Corpos musculosos, lapidados em academias e símbolos, muitas vezes, de uma vaidades extremadas, forram cérebros pouco exercitados. Assim, o ser humano vai dando cabo ao seu processo de "zumbificação" que chamo de síndrome de "Walking Dead" (seriado americano em que os personagens são zumbis). Caso levemos a máxima do filósofo René Descartes (Penso, logo existo) ao limite, muitos seres humanos pouco existem, pois pouco pensam. E, ainda que venham a existir, serve, também, as palavras do grande escritor irlandês Oscar Wilde: "muitos existem, poucos, de fato, vivem."

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