Eduardo Giannetti - Colunistas - Folha de S.Paulo |
A duas
semanas da posse, o governo reeleito dá mostras de que está sem projeto, sem
força política e sem autoridade moral.
O que
se anuncia é um mandato anêmico, pautado por crises sucessivas e medidas
improvisadas visando contê-las. O quadro reforça a pertinência da
recomendação, atribuída a Eça de Queiroz, de que governos e fraldas devem ser
trocados periodicamente e pelo mesmo motivo! Como não foi o caso, resta
amargar.
|
|
A
virada foi completa. Em poucos anos, o Brasil passou de estrela do mundo
emergente a país submergente. Se por um breve interlúdio gozamos a ilusão da ilha
de prosperidade em meio a um mar turbulento (para evocar o bordão do general
Geisel ressuscitado por Lula 2), agora estamos perto de virar o oposto.
Enquanto o mundo reemerge, o Brasil afunda.
|
|
O que
deu errado? As causas próximas são múltiplas e vão desde os equívocos e
barbeiragens da política econômica (macro e micro) à aposta redobrada no
modelo do presidencialismo de condomínio, por meio da cessão de glebas do
governo ao que há de pior na política brasileira. Penso, no entanto, que na
raiz do nosso retrocesso existe um fator subjacente comum e de amplo alcance.
|
|
O ponto
é que os governos petistas e com mais ímpeto após a eclosão do mensalão na
política e da crise de 2008 na economia levaram a deformação patrimonialista
do Estado brasileiro a um novo e exacerbado patamar, com tudo que isso
acarreta em termos de distorção nas relações entre público e privado, piora
na alocação de recursos, ruína da governança e degradação dos padrões éticos.
|
|
A
melhor evidência disso é a Petrobras. A cada nova revelação, a saga se torna
mais emblemática. O maior escândalo de corrupção da história do Brasil e o
certame não é fácil não é fruto apenas da fraude contábil e da ganância
corporativa, como no colapso da Enron americana.
|
|
O que
temos aqui são empresas privadas, burocratas estatais e políticos em estreito
e estruturado conluio visando maximizar, à guarida dos donos do poder e às
custas do resto da nação, lucros espúrios, fortunas pessoais e projetos de
apropriação continuada do Estado.
|
|
O capitalismo
politicamente orientado não nasceu com o mandarinato petista veio com as
caravelas mas foi levado ao paroxismo por ele. A recaída patrimonialista é o
enredo cifrado do drama cujo desenrolar anima a crônica diária da encrenca
econômica, ética e política em que estamos metidos.
|
|
Embora
não esteja ao alcance das instituições, quando são boas, fazer todo um povo
prosperar só o trabalho, a inovação e o cuidado com o amanhã têm tal elas são
capazes, quando nocivas, de condená-lo à eterna mediocridade.
Artigo Publicado hoje (19) na Coluna Folha de São Paulo |
0 comments: