Tosta Neto (Escritor e Historiador) - Colunista do Outro Olhar |
Ainda sob o calor do resultado das eleições,
o ‘nosso’ país foi revolvido por comentários inter-regionais supostamente
preconceituosos, cujas redes sociais foram o palco principal dum debate mais
vazio que o próprio vazio. O Nordeste foi tachado como uma súcia de miseráveis
e ignorantes, e o Sudeste, como uma caterva rica e opressora. Eu não
desperdicei meu precioso tempo com uma coisa tão estéril.
O Nordeste não deve ser colocado na
condição de vítima. A moral que vitima o nordestino é uma moral tipicamente
cristã, a qual obstrui a capacidade humana da transcendência, criando um
rebanho de ovelhas e posicionando o “outro” enquanto carrasco e dominador. Por
sinal, essa moral escrava é fundamental para perpetuar um grupo político no
poder, pois o escravo precisa do senhor para protegê-lo, em alguns casos, este
último recorre a métodos governamentais alicerçados no assistencialismo. O
nordestino não é um coitadinho e oprimido. O nordestino não é vítima. Aliás, ninguém
é vítima!
Quem tem o mínimo conhecimento histórico
sabe que a região nordeste foi o centro político-econômico do Brasil, do início
da colonização até a crise da economia açucareira no século XVII e a
consolidação da mineração no século XVIII. Quem estudou o Primeiro Reinado
lembra-se da Confederação do Equador, união de algumas províncias nordestinas
que tinha entre seus objetivos, a separação do Brasil. Pois é, as províncias
supracitadas almejavam uma nação inspirada nas ideias republicanas, obviamente,
uma nação livre do Brasil.
Quem teve o imenso prazer de ler O Banquete recorda-se da narrativa de
Platão sobre o nascimento do Amor (Eros), personagem que apresenta uma natureza
dupla: a riqueza do pai (Poros) e a penúria da mãe (Penia). Onde houver
riqueza, consequentemente, haverá pobreza, logo, não é de bom grado que uma
região se autoproclame o baluarte da riqueza. Uma não existe sem a outra.
Qualquer região do mundo tem a companhia dessas irmãs inseparáveis.
O tempo é impiedoso e, em breve, esse
debate inter-regional será decapitado. Ademais, é uma bobagem retumbante
insistir na contenda Nordeste versus
Sudeste. Esqueçamos isso! A história nos aponta que as nações e os regionalismos
são construções humanas e abstratas. Não existe Brasil! Não existe Nordeste!
Não existe Sudeste! Não existe Argentina! O que existe é o planeta Terra!
Lembrei-me duma frase da música “Conheço o meu lugar” do grande compositor
Belchior: “Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve!” Eis a questão: sou ou
não sou nordestino? Respondo: não sou nordestino, não sou brasileiro, sou um
“cidadão do mundo”.
Tosta Neto é Escritor e Historiador, Colunista do Outro Olhar . |
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